Na 4ª feira à noite, assisti a uma cena que me deixou revoltado.
Revoltado pela situação em si e revoltado porque eu nada fiz para mudar alguma coisa.
Dirigia-me para a Av. de Horta e Costa, quando, perto do jardim Lou lim Ioc, nas traseiras de uma esquadra, apercebi-me, um pouco mais à minha frente, de uma cena de violência juvenil.
Eram 4 raparigas que deviam ter os seus 14, 15 anos, a maltratarem uma pequena colegial de uniforme branco, a quem talvez lhe tivessem tirado o dinheiro e/ou o telemóvel.
À medida que ia avançando, tentava ter a certeza daquilo que suspeitava, e de facto, quando me aproximei o suficiente, era já tarde. A pequena colegial passou por mim a chorar convulsivamente com uma das mãos a tapar uma das suas faces, acompanhada de uma amiga, enquanto que as 4 grandes, indiferentes à minha presença, seguiram na mesma direcção em que eu ia, todas satisfeitas.
Quando a pequena de seu uniforme branco passou por mim, eu percebi imediatamente o que ela sentia... estivemos em sintonia. Naquele momento em que nos cruzamos, percebi perfeitamente a agonia, o medo e a dor que ela sentia.
É que ela fazia parte dos mais fracos, tal como eu na minha infância.
Poderão achar que estas situações são "normais" na nossa adolescência (que, inclusivamente a caracterizam) e que contribuem para o desenvolvimento do nosso caráctere, mas se há situações que não suporto e com as quais fico deveras revoltado, estas são a disciminação racial ou actos de racismo e a injustiça perante um grupo considerado, seja por que razão, de fraco.
Sempre houve, é verdade, duas forças opostas: a dos mais fortes e a dos mais fracos.
Eu sempre pertenci ao grupo dos mais fracos, apesar de ter sempre sido um elemento forte nesse grupo, o que me valeu algum respeito.
Creio que facilmente poderia ter passado para o grupo dos mais fortes, mas nunca o quis, como aliás nunca quis pertencer ao dos mais fracos.
Hoje, quando vejo "os grandes", aqueles que tinham um prazer maligno a incomodar, troçar, envergonhar e magoar os mais fracos, sinto pena deles. Parece que a situação se alterou e enquanto os mais pequenos, na sua maioria, acabaram por se formar, os mais fortes desistiram e empregaram-se na restauração ou nas obras. Hoje, veêm-me, comprimentam-me e até me pagam um copo!
A violência entre estudantes em Macau, não é novidade. Mas isso não signifique que seja por isso "normal".
Quando me aproximava da av. de Horta e Costa, mesmo atrás do grupo das maiores, apercebi-me que os miúdos de uniforme, ao vê-las passar, se escondiam atrás dos carros, entravam em lojas, ou simplesmente fugiam na direcção oposta.
Não fiz nada para evitar a situação anterior e isso deixa-me mal.
A coisa aconteceu há 3 dias, e hoje ainda, revejo o rosto da pequena colegial a chorar convulsivamente, passando por mim...
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