Jogo e prostituição - 娱乐场和卖淫


Na foto ao lado: placa colocada à entrada de uma casa de banho num jardim, perto da Vila Cultural de Á-Má (vejam a alinha 7)... Já agora, a última alinha não deixa também de ser... intrigante.

Finalmente! Após 4 meses desde que foi anunciado, cá está ele: o post relativo ao tema referido no título.

Com alguma frequência se vê na televisão de Hong Kong, e com alguma frequência, spots nos quais se pede às pessoas para não desperdiçarem todo o seu dinheiro no jogo: "Don't gamble in excess" ou "Don't gamble your life away", são os slogans.

No dia 1 de Março passei pelo Grand Lisboa com uma amiga chinesa que me aponta para um pequeno papel A5 impresso em chinês, colado numa das entradas do casino. "Sabes o que diz ali?", perguntou-me. "Seja moderado, aposte pequenas quantias de dinheiro"...
Deu-me vontade de rir! Francamente, há um enorme "painel chamariz" junto ao casino, dandos as boas vindas e informando que esta semana o casino deu um prémio desse ou daquele valor; que já arrecadaram este ou aquele prémio não sei quantas pessoas... enfim, que o casino é um benevolente, que "oferece" rios de dinheiro, que é portanto, generoso, que tem boas energias, ou seja, que o dinheiro também sai dali... um verdadeiro convite ao jogo.

No entanto, não deixo de considerar esta questão interessante. É verdade. Tal como os fabricantes de bebidas alcoólica ou as tabaqueiras, os casinos realizam lucros inimagináveis à custa de produtos/serviços que eles próprios advertem poderem causar danos consideráveis (pessoais, financeiros e de saúde) a uma pessoa! É caricato.

Que Macau tornou-se na capital mundial do jogo, isso toda a gente sabe.
Que os chineses adoram jogar, isso também toda a gente sabe.
Mas por que razão? Será que todos nós temos verdadeiramente consciência do quanto o jogo é importante para os chineses? Tratar-se-á de um vício?

Segundo um estudo referido num artigo da revista de Macau, "Inside Asian Gaming" de Fevereiro, existiriam 3 factores para explicar o fenómeno.
Primeiro, de um ponto de vista económico, a justificação seria a de que a China, ao longo da sua história, gerou cada vez mais pobreza nos meios rurais, privilegiando as grandes cidades, pelo que os que jogam (a maior parte dos jogadores são oriundos do meio rural) aspiram obviamente a uma vida melhor.
A 2ª razão reside no facto de os chineses não terem outra forma de distracção ao longo do ano, senão jogar...
Finalmente a última razão, que também me parece ser mais credível das apresentadas, remete para o campo da cultura e tradição chinesas. Justifica que os chineses têm uma enraizada crença na sorte e na procura da felicidade, e por consequente, no jogo. Facto que se verifica no dia-a-dia dos chineses, e que vai desde a alimentação, ao vestuário, as decorações, enfim, à todos os aspectos que integram o quotidiano dos chineses. Daí jogar para adquirir a riqueza; riqueza que irá trazer a felicidade.
De qualquer forma, uma coisa é certa: os chineses encaram o jogo como um negócio e não como uma diversão.

Prevê-se que este ano, o sector do jogo em Macau deverá gerar receitas brutas de valor aproximado entre os 65.000 e os 70.000 milhões de patacas. Sendo que a administração de Macau cobra 35% de impostos directos sobre estas receitas, mais cerca de 4% de impostos indirectos e ainda uma série de taxas por licença, mesas e slot machines de cada um dos 25 casinos... podemos dizer que a árvore das patacas existe mesmo. Mas atenção, ela não cresce em qualquer jardim. Só nalguns. Só para alguns.

Os casinos atraiem, obviamente, jogadores à procura de um filão: o grande prémio.
Mas também atrai outro género de pessoas, também elas à procura do seu filão: os estrangeiros.

Deixem-me explicar. Aqui sou um "cara pálida", facto que só por si, me destaca do resto da massa de rostos que aqui se aglomeram. Juntamente com a "cara pálida" há um tendência para pensar-se que se é rico ou, pelo menos, que se tem mais dinheiro do que os outros.
O destaque e o facto de o associar ao dinheiro, faz com que com muita frequência, eu seja abordado por jovens profissionais do sexo (e menos jovens), à procura do seu filão. "Massage? Massage?" perguntem elas.
Que o façam dentro dos casinos e nos arredores, eu entendo. Que o façam em locais propícios para tal actividade, também entendo. Afinal podemos ser jogadores/turistas europeus com dinheiro e interessados nelas. Mas que o façam no centro da cidade, aí já me custa perceber.
Atenção, nada tenho contra as que exercem tal actividade, desde que o façam de livre vontade (se é que assim o podemos dizer), ou seja, que não sejam forçadas por terceiros, a fazê-lo.

Não é segredo nenhum que Macau está cheia destas profissionais. Há de tudo um pouco: tailandesas, russas, chinesas, sul americanas, filipinas, japonesas e, mais recentemente, mongóis. Como há também várias locais onde as podemos encontrar: em pensões, na rua (apesar de não ser permitido), nos casinos, em casas de "massagens", nas saunas, nos bares, ou ainda, como se vê na Taipa, por "encomenda".

Segundo um estudo revelado no jornal Ponto Final (10 de Dezembro de 2006), mais de 80% das profissionais de etnia chinesa dedica-se à actividade por iniciativa própria, sem intermediários sendo a maioria oriunda de províncias pobres da China, tal como o Hubei, Hunan e Sichuan. Uma em cada 10 é de Macau.
As outras, as não chinesas, chegam geralmente ao Território através de terceiros.
Em Macau, se não estou em erro, a prostituição é ilegal, mas não é considerado um crime. No entanto, o lenocínio sim.

Um país que muito me impressionou pela positiva na questão da prostituição (bem como noutras situações), foi a Holanda.
Estas realidades e tantas outras, são enfrentadas e resolvidas de uma forma, que considero ser inteligente e funcional.
Dão-se as condições necessárias para quem queira dedicar-se a esta "profissão" (local próprio e acompanhamento médico) bem como protecção pessoal, não dando espaço a terceiros de explorar esras mulheres. E os que estiverem interessados nos seus serviços, também estão eles de certa forma "seguros".
Por fim, os outros, os que não estão para aí virados, não são constantemente abordados na rua e noutros locais por estas mulheres... Prático!

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