Hoje, dia 5 de Abril, feriado em Macau, é dia da festa da "Suprema Claridade".
A festa da "Suprema Claridade", em chinês mandarim Chingming Jie (清明节), também conhecida por festa da "Limpeza dos Túmulos", em chinês madarim Saomu Jie (扫墓节), assinala o fim do Inverno e o início da Primavera.
É uma altura para relembrar os falecidos e visitar os seus túmulos, pelo que este festa traduz-se como uma ocasião de reunião familiar. Famílias inteiras dirigem-se para todos os locais onde estão sepultados os seus antepassados (cemitérios e outros locais) para prestar-lhes homenagem e culto.
Fui ver o cemitério municipal da Taipa, o Sa Kong, localizado junto à Estrada Almirante Magalhães Correia e a Estrada Ponta da Cabrita. Em ambas as estradas encontrei verdadeiras peregrinações. Uns dirigiam-se para o cemitério municipal, outros para o cemitério da união budista chinesa, sitiado mais acima.
Outros ainda, dirigiam-se para dentro do mato, fora dos limites dos cemitérios portanto, onde estão também localizadas algumas sepulturas.
Os chineses acreditam que os antepassados precisam de atenção e der serem tratados com reverência, tal como se continuassem vivos. Apesar dos antepassados não serem tão poderosos quanto as divindades, acredita-se que eles podem importunar ou até mesmo castigar os familiares, se não forem homenageados e venerados.
As famílias dirigiam-se para os referidos cemitérios afim de lhes fazerem as tradicionais oferendas, mas também para limpar os túmulos e, caso necessário, pintar os caracteres e outros motivos que se vão "apagando" com o tempo.
As oferendas eram das mais variadas: incenso, velas, leitão e pato assado, galinha e ovos cozidos, doces, frutas, bebidas, cigarros, diversos objectos feitos de papel (dinheiro, telemóveis, roupa, carros, mansões, criados, armas(!), etc.) e flores.
Destinam-se, como eu disse, para a própria satisfação do defunto, facto que torna as ofertas diferentes de túmulo para túmulo, consoante o gosto dos falecidos. O ritual de homenagem aos mortos começa antes de tudo com a lavagem e limpeza das respectivas campas. Varrem-se as folhas mortas, arrancam-se as ervas daninhas, deixando tudo limpo à volta dos túmulos.
A seguir, presta-se tributo à divindade mais antiga, responsável pelo terreno e à divindade que vela pela sepultura.
Só depois é que se presta culto ao falecido. O ritual completa-se com a tradicional queima de panchões.
O ar está carregado de fumo e cinza a voar, levados pelo vento. O cheiro a queimado é também intenso.
Após os rituais, partilha-se uma refeição “com o defunto”, convivendo deste modo, de uma forma directa e íntima, com o antepassado. Toda a família usufrui desta refeição, partilhando o banquete e a alegria de uma família unida. A cerimónia transforma-se assim, num agradável piquenique. Os restos de comida não devem nunca ser levados de volta para casa, pelo que podem ser oferecidos aos mais pobres.
Por fim, colocam-se folhas de papel vermelho e verde em cima das lápides para informar outros parentes do falecido, que o túmulo foi já visitado e o antepassado venerado.
Só quando cheguei ao meu quarto é que reparei que eu cheirava a fumo e a queimado.
Subscribe to:
Post Comments (Atom)
No comments:
Post a Comment