Se há algo que adoro na investigação (pois não esquecemos que estou aqui, primeiramente, no âmbito da realização de uma tese de mestrado na área das ciências sociais), é o facto de se "descobrirem coisas" simplesmente deliciosas.
Transcrevo aqui uma observação feita pelo, infelizmente, pouco divulgado Capitão-Tenente Jaime do Inso, oficial português, marinheiro que passou por Macau e pela China, autor de uma extensa bibliografia de grande interesse, "O Caminho do Oriente", "Cenas da Vida de Macau", "Ecos de Macau", "Visões da China", entre outros.
Para mim, uma referência para o conhecimento da presença portuguesa no Oriente, pouco valorizado e conhecido, como tantos outros, lamentavelmente.
A descrição com a qual me deparei foi publicada no diário de Macau "A Pátria" de 22 de Fevereiro de 1928.
Se as impressões de Jaime do Inso estão aqui transcritas, é por elas aproximarem-se muito daquilo que um verdadeiro apaixonado por Macau e pela China pode sentir: uma atracção cega, descontrolada por vezes, codificada, quase fatal, ambígua e cheia de contradições.
Na mesma linha deste "sentir" a China, só me lembro agora do escritor belga Henri Michaux (亨利米肖) e o seu pequeno livro "Un barbare en Chine". Já agora, recomenda-se!
Então aqui vai...
"A China absorve-nos, narcotiza-nos, prende e domina, como regra geral, o nosso espírito, invade tudo, o raciocínio e o sentimento, como uma teia invisível que aperta, pouco a pouco, insensivelmente, que nos sufoca, esgota e cansa!
A China é traiçoeira e calma, insinua-se quanto mais se aborrece, deseja-se quando se odeia, aspira-se como uma necessidade, a China, que quase até nos mata!
A China é como uma feiticeira que tem sortilégios, é a cartomante terrível que parece escrever o nosso destino com letras invisíveis: há no seu ambiente um sopro de agoiro, uma agonia, uma tristeza, uma tortura, que se recebem sem custo e com prazer, como uma necessidade fatal da nossa existência.
A China é o mistério que ri e que dança na frente de nós, numa volúpia dolorosa do espírito duende, a China é a mensageira do desconhecido que perturba, enerva, envenena e vence.
A China é tudo isso e muito mais ainda que a minha pena não sabe descrever, a China não se define, só se respira e sente, como um veneno imprescindível a quem uma vez o provou.
(...)"
As suas bellíssimas e tão próximas da realidade, observações, não se ficam por aqui. Apenas transcrevi 5 dos 13 parágrafos...
Para quem quiser saber mais sobre este oficial da Armada, podem obter informações acedando ao site da Marinha Portuguesa:
http://www.marinha.pt/extra/revista/ra_set_out2005/pag_18.html
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1 comment:
O endereço não permite o acesso à revista da Marinha. Há algum alternativo?
Obrigada
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