A festa do Dragão Embriagado - 醉龙节









Esta manhã de feriado, levantei-me bem cedo e fui para Macau. Cheguei ao Largo do Senado por volta das 8h e dirigi-me imediatamente para o templo de Kuan Tai, perto do mercado de S. Domingos, na rua dos Mercadores.
Já lá estava uma aglomeração de pessoas. Desde aos participantes, aos fotográfos, dos curiosos e aficionados aos convidados, dos polícias e escuteiros aos turistas. Já fervilhava no ar um certo entusiasmo e excitação... Estava a prepara-se a celebração da festividade do Dragão Embriagado!

Organizada anualmente pelo sector de peixaria de Macau, esta celebração teve a sua origem na cidade de ZhongShan (中山, província de Guangdong) e expandiu-se rapidamente para todo o sul da China, inclusivé Macau. Assim, esta festa tornou-se parte integrante das tradições do Território de Macau.

A celebração iniciou-se com uma cerimónia oficializada e orientada por um monge taoista. Convidados de honra e presidentes de diversas associações organizadoras do evento prosseguiram com a tradicional e imprescindível cerimónia da vivificação do dragão, indispensável para dar início à "Mou Choi Long", a dança do dragão embriagado. Após estes, foi a vez dos leões, que uma vez vivificados, começaram também eles a dançar...









A dança do dragão embriagado assenta basicamente num misto entre uma coreografia ensaiada e o improviso.
O dragão totalmente absorto, “dominado” pelos homens, anda pela ruas da cidade, recriando desta forma um acto de bravura. A passagem dos dragões vai afastando os sempre iminentes perigos e espíritos demoníacos.
Os membros das associações que participam na dança começam a ingerir álcool em grandes quantidades (aguardente de arroz ou cerveja), antes de darem início a dança, para que possam executa-la com êxito. Depois carregando pesadas cabeças e caudas de dragão em madeira, entoando um "bailado ritual", no mínimo insólito mas muito cativante, percorrendo as ruas da cidade acompanhados pelo ritmo de tambores e címbalos.
Cheira a cerveja e a vinho chinês por todo o lado!

Na origem desta celebração parecem existir várias versões de uma mesma lenda. Segundo uma destas versões, um homem terá caído ao rio onde vivia uma serpente enorme que molestava constantemente as populações ribeirinhas. Os habitantes destas povoações socorreram o malogrado homem, retirando-o da água. Na tentativa de o reanimar e tentando aquecê-lo, deram-lhe de beber aguardente, levando-o a um estado de embriaguez tal que, completamente fora do seu estado de sobriedade, desafiou a serpente e venceu-a, cortando-a aos pedaços (na mitologia chinesa, a serpente e o dração são muitas vezes associados).











No entanto, a mais popular das versões, conta que terá sido o próprio Buddha quem terá cortado o dragão em três partes enquanto o animal se encontrava a banhar no rio, ficando as duas extremidades separadas do corpo. Mais tarde, um pescador embriagado, apanhou nas sua redes, durante a sua faina diária, a cabeça e a cauda do dragão: as únicas partes que sobraram do corpo do animal.

A dança do dragão trata, de certa forma, de representar a exibição honorífica do duelo de Buddha com o dragão, do homem com o mito.

Às 10h30 saímos do templo de kuan Tai para nos dirigirmos ao Porto Interior e "visitar" várias bancas de venda de peixe.
Assim, da rua dos Mercadores seguimos para o Porto Interior. Os dançarinos e músicos, subiram em 4 camiões para chegar até ao 1º local de comercio de peixe e eu, com alguma sorte, subi para o 1º camião, o que encabeçava o desfile, e, surpresa minha, ninguém me impediu de o fazer! Muito pelo contrário, ajudaram-me a subir. Tornei-me, em breves segundos, de espectador num "participante" e adorei!! O estado de embriaguez de alguns contagiaram-me e deparei-me comigo completamente absorvido naquela envolvência toda. Dei por mim a bater o pé ao ritmo da música...!

Depois da 1ª paragem, o resto do percurso foi feito a pé. Os participantes vão consumindo cada vez mais álcool e, de quando em quando, cospem-no, criando um efeito bem interessante, dando a impressão de que o dragão está a cospir fogo. Consoante o tipo de oferendas que os comerciantes do Porto Interior vão oferecendo, os leões ou os dragões vão apanhando legumes, bebidas e lai-sis. A simulação destes animais a ingerir os vegetais, simboliza o afastamento de tudo aquilo que é maléfico, de tudo aquilo que é nefasto, assegurando dessa forma a prosperidade dos estabelecimentos e comerciantes cuja actividade está ligada ao mar.
Obviamente, que a acompanhar as danças estão as queimas de panchões...









Depois de ter seguido o desfile até ao Largo do Pagode do Bazar, decidi deixa-lo. Já tinham passado quase 3 horas e estava exausto e a transpirar tanto que eu parecia uma fonte ambulante!
E, para além disso, a fome já apertava, afinal eram praticamente meio dia.
Dei uma salto na livraria Bloom e depois fui almoçar no Beco da Pinga um "Chu Quat".

No entanto, esqueçi-me que no fim das danças é sempre oferecido uma refeição a toda a população: o arroz abençoado!
Este arroz que precisa de cerca de 10 horas para ser preparado e de 60 a 70 pessoas para a sua preparação e distribuição, é também conhecido por “arroz da longevidade” ou Tchái. Este arroz é essencialmente preparado com vegetais, porém, por vezes acrescentam-lhe uma pequena quantidade de carne. É geralmente preparado pelas famílias dos vendedores de peixe.
É uma refeição muito procurada, pois acredita-se que este arroz abençoado, depois de ser consumido afasta a doença e atrai a boa sorte.
E eu esqueçi-me completamente...!! Que desgraça...!

Enfim, fiquei muito satisfeito com esta minha 1ª experiência. Fiquei mesmo muito impressionado com a atenção e simpatia dos participantes que me fizeram sentir bem vindo, no meia daquela confusão toda.
Não imaginam o n.º de fotógrafos que se debatia para ter a melhor foto! Mas foi óptimo... adorei.

Tenho pena de não ter podido assistir à festa do "Banho de Buddha" que decorria ao mesmo tempo, nos vários templos do Território.
Nem sequer à noite fui a Coloane assistir à festa de Tam Kung, pois tive que escolher entre a celebração e um jantar com amigos chineses. Escolhi estar com os meus amigos.


E foi óptimo, pois a coroar este dia tão rico em emoções, estava a amizade que muito prezo e um delicioso "hot pot" tailandês. Este era um "hot pot" de peixe.
A festa de Tam Kung fica para o próximo ano.

No comments: