No dia 19 do passado mês de Junho celebrou-se a Festa dos Barcos-dragão.
No quinto dia do quinto mês lunar (por volta do solstício do Verão), festeja-se a data à qual o poeta e ministro da dinastia Zhou [1050-221 a.C.], Quyuan (Wat Yun), atirou-se ao rio Miluo, situado a Nordeste da província de Hunan, após ter sido caluniado injustamente, por colegas desonestos e ter perdido toda a esperança no seu reino dado à corrupção que se instalou. A lenda acrescenta que a população, numa tentativa de resgatar o corpo do poeta antes que os monstros marinhos se apoderassem dele, correram para as canoas e remaram a toda a velocidade pelo rio, batendo em tambores para afugentar os peixes, atirando à água, pudins de arroz embrulhados em folhas de bananeiras, desviando assim a atenção dos monstros marinhos, do corpo do malogrado homem. Entretanto, uma outra versão da lenda conta que o espírito do poeta terá visitado a sua irmã, para lhe dizer que nada tinha com que se alimentar pelo que a irmã passou a atirar arroz para o rio, para o irmão preso nas profundezas das águas.
No entanto, há quem defenda que esta festa já existia, sobre outra forma, muito antes da morte do poeta. Segundo estudos contemporâneos, a Festa dos Barcos-dragão, seria uma variante da antiga Festa da Água ou Festa do Dragão, celebrada em honra deste animal, responsável pela água. Os habitantes do interior da China consideram que o quinto dia do quinto mês é um dia nefasto, sendo esta a altura em que cinco animais venenosos, a centípede, o escorpião, a serpente, o lagarto e o sapo, adquiram maior expansão e expressão, pelo que era então necessário expulsa-los assim como à pestilência por eles provocada, homenageando o Deus Dragão, garantindo simultaneamente, água suficiente para todo o ano, elemento vital para a agricultura e a vida quotidiana.
Contudo, a lenda que ainda prevalece é a do famoso poeta. Literalmente, Quyuan foi o primeiro poeta chinês. O estilo da sua poesia foi, mais tarde, denominada de Chu Ci.
As regatas dos barcos-dragão decorrem na baía de Sai Wan, mas a festa estende-se também para as ruas e avenidas da cidade de Macau.
Os barcos-dragão são longas embarcações de madeira com cauda e cabeça de dragão, pintados de várias cores e com um cumprimento que vai dos 20 aos 40 metros. Equipas de 20 remadores posicionados aos pares, um timoneiro ao leme e um tamborileiro à proa dão vida a estes barcos e ritmo à festa.
As embarcações avançam ao som dos tambores e sob as indicações do capitão que, de pé, coordena os movimentos dos remadores. Recria-se assim, as tentativas feitas para salvar Quyuan das águas do rio. Esta actividade requer dos remadores não somente força física, mas também concentração e coordenação de movimentos.
Actualmente participam equipas nacionais e estrangeiras, adquirindo cada vez mais, uma dimensão desportiva com grande impacto turístico para o Território.
Cada uma das embarcações representa uma aldeia, uma localidade ou uma associação. Geralmente, nas equipas nacionais encontramos associações diversas, tais como a dos pescadores, a dos agricultores ou a dos operários. Mas encontramos igualmente equipas de grupos desportivos, equipas universitárias ou ainda equipas representando as ilhas de Coloane e da Taipa.
Altas personalidades do Território de Macau são convidadas a dirigir a cerimónia da vivificação dos dragões, pintando-lhes os olhos. A vivificação do dragão ou do leão, consiste em pintar os olhos dos animais, de vermelho, simbolizando, desta forma, o despertar destes seres.
A competição desenrola-se em dois dias, sendo disputadas, no primeiro, as eliminatórias e as meias-finais. Depois dos grupos estarem definidos para as semi-finais, serão determinadas as equipas que irão disputar a final.
Mas as regatas não são as únicas características da Festa dos Barcos-dragão. Findo a competição, preparam-se bolos de arroz, os “Chong” (tchong) – antigamente conhecidos em Macau pelo nome de “bolos de catupá” –, cozidos em banho-maria, embrulhados em folhas de bananeira e atados com cordel vegetal de modo a ficarem em forma de pirâmide. Uma tradição relacionada com a morte do poeta QuYuan, apesar deste costume ser muito mais antigo, pois já foi um alimento sazonal que assinalava a chegada do Verão.
Existem em Macau diversas variedades de bolos de arroz que vem satisfazer os mais variados gostos. Os mais comuns são os bolos de arroz cozido a vapor, os bolos de arroz salgado, com uma gema de ovo salgado, toucinho, carnes fumadas e camarão seco no seu interior e os bolos de arroz doce, com recheio de açúcar e gema de ovo salgada. O Chong com recheio de cogumelos e vieira e o Chong com recheio de sementes de lotús moídos e grãos de cevada, são também muito apreciados e muito procurados tanto para consumo próprio como para oferecer aos familiares e amigos.
E assim foi mais uma das festividades chinesas de Macau.
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